Hélio Gracie

Hélio Gracie

Hélio Gracie é indiscutivelmente uma das figuras mais importantes do Jiu-Jitsu Brasileiro. Um dos primeiros representantes do Jiu-Jitsu nas decadas de 1930 e 1940, Hélio Gracie foi também o pai e mestre de muitos dos lutadores que trouxeram a Arte Suave aos principais palcos das Artes Marciais no começo da década de 1990, competidores como Royler, Rickson e Royce Gracie. A sua linhagem e legado são dos mais fortes no Jiu-Jitsu e ele é considerado como um dos pais do Jiu-Jitsu Brasileiro.

Biografia de Hélio Gracie

Nascido no dia 1 de Outubro de 1913, Hélio foi o filho mais novo de Gastão Gracie, um escocês de terceira geração. Eram 9 irmãos e irmãs e Hélio sobressaiu desde cedo devido ao seu biótipo; alto e magro era totalmente o oposto dos seus irmãos, baixos e mais encorpados.

A infância de Hélio foi complicada, com a sua família entrando numa crise financeira quando ele era muito jovem, como consequência, em 1921 os Gracie tiveram de se mudar de Belém do Pará (sua cidade natal) para uma cidade maior, o Rio de Janeiro. Todas essas mudanças que ocorreram cedo na sua vida tiveram consequências e ele começou sofrendo de tonturas crónicas e e outros problemas que, segundo os medicos na altura, de devia em grande parte à sua instabilidade psicológica.

Nos últimos anos que os Gracie ficaram em Belém do Pará, o seu irmão mais velho, Carlos Gracie, conheceu Mitsuyo Esai Maeda (apelidado de Conde Coma), que era um grande lutador de Jiu-Jitsu da escola Kodokan (que posteriormente se chamaria de e Judô), Maeda tinha vindo para o Brasil com o objetivo de divulgar as Artes Marciais Japonesas. Carlos Gracie começou treinando com Maeda e rapidamente se tornou um dos seus melhores alunos. Tudo o que Carlos aprendia nas aulas de Jiu-Jitsu ele tentava depois passar para os seus irmãos.

Eles se testavam, lutando entre eles com regularidade, mas Hélio, por ser demasiado frágil fisicamente, não tinha permissão para o fazer. Em vez disso ele ficava do lado e tentava compreender a mecânica do Jiu-Jitsu. Alguns anos após os Gracie se mudarem para o Rio de Janeiro, em 1925, Carlos Gracie – o mais velho conseguiu realizar o seu sonho de criar a sua primeira Academia de Jiu-Jitsu. Para o ajudar nesse novo desafio ele convidou seus irmãos Oswaldo, Gastão, Hélio e George para se juntarem a ele.

Hélio começou a rolar com seus irmãos, escondendo esse fato de Carlos, que era muito protetor do seu irmão mais novo e temia pela sua saúde. Quando ele descobriu, Hélio já conhecia técnicas avançadas e era um bom treino para seus irmãos, o que fez com que Carlos permitisse que ele continuasse a treinando e o aceitasse em suas aulas regulares.

George Gracie (o primeiro verdadeiro campeao da familia) era um excelente lutador, mas tinha um estilo de vida boémio e Hélio rapidamente se tornaria a “estrela da companhia” de Carlos, o seu aluno prodígio, tanto até que em 1932 Carlos lhe permitiu lutar no seu primeiro combate de Vale Tudo (naquela época com muito poucas regras). O combate foi contra um lutador de boxe chamado António Portugal e durou menos de um minuto, com Hélio a finalizar com um estrangulamento que apagou seu oponente.

Hélio lutou por diversas vezes nos 6 anos que se seguiram, tentando promover a Academia Gracie junto com seus irmãos. Com o crescer do vale tudo e da popularidade da familia Gracie, George acabou se separando dos irmãos ficando até rival da academia Gracie. A rebelião de George culminou num desafio a Hélio, com a intenção de provar quem era o melhor lutador do Rio de Janeiro, mas a luta nunca foi em frente devido à forte oposição de Carlos.

Em 1938 a carreira de Hélio teve uma pausa, ele abandonou os ringues e tatames para se mudar para outra cidade por motivos pessoais, acabando por regressar a ativa 12 anos mais tarde, com 38 anos de idade após ser desafiado. O seu oponente era Landufo Caribé, o campeão de Jiu-Jitsu da Bahia, que vinha de uma linhagem diferente da dos Gracie e queria provar o seu estilo. Helio protejeu mais uma vez o nome guerreiro da famillia provando a sua superioridade e finalizando Caribé rapidamente.

Um ano mais tarde chegou a oportunidade de lutar contra o poderoso Masahiko Kimura, o campeão de Judô de Jigaro Kano no Japão. A oportunidade veio depois de Helio desafiar Kimura durante meses a fio, sem resposta, após algum tempo Kimura respondeu, que não achava Hélio digno de lutar com ele. Foi então acordade que Hélio lutasse contra Kato (o número 2 do Japão) para provar ser merecedor de enfrentar Kimura. Hélio lutou e derrotou Kato com um estrangulamento cruzado de dentro da guarda. Só aí Kimura aceitou o desafio.

No livro de Reila Gracie sobre a família Gracie, é dito que Kimura tinha 35 kilos a mais do que Hélio, mas é impossível confirmar essa informação a 100%. Kimura estava tão convencido da sua superioridade que afirmou na imprensa que se a luta durasse mais de 3 minutos ele a consideraria uma derrota. Masahiko Kimura derrotou Hélio Gracie com uma Chave de Kimura (o golpe foi batizado com o nome de Masahiko após o combate) em 13 minutos (bem mais do que objetivo de 3 minutos) o que impressionou Kimura que terminou a luta felicitando Hélio pela sua dureza. Esse foi um duro golpe para os Gracie e para o Jiu-Jitsu que tinha ganho uma boa dose de relevância no Rio de Janeiro. Com essa diminuição de popularidade, havia menos lutas e Hélio se virou de novo para o ensino da arte suave.

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Carlos Gracie tinha deixado a academia do Rio de Janeiro e se mudado para Fortaleza para gerir seus negócios, deixando seus filhos Carlson Gracie, Rolls e Carlos Júnior (Carlinhos) para serem ensinados pelo tio Hélio.

Hélio Gracie regressou aos tatames 5 anos mais tarde, depois de ser desafiado por um antigo aluno, Waldemar Santana de seu nome, e a luta iria figurar nos livros de recordes como a mais longa luta de vale tudo de sempre (3 horas e 42 minutos). Waldemar e Helio teriam cortado relações após vários anos de convívio na academia Gracie onde Santana trabalhava e treinava.

A luta era um pouco desigual fisicamente sendo que Waldemar Santana era bem mais corpulento e se encontrava no aúge de sua pujança fisica, mas a maior experiência de Helio levou a luta bem mais a frente do que seria de esperar, Hélio acabou perdendo a luta e os sentidos apos tomar um chute na cabeça.

Depois disso Helio Gracie dedicou o seu tempo a ensinar seus filhos e os de Carlos Gracie. Lendas do Jiu-Jitsu como Rickson, Royce, Carlson, Rolls, Carlinhos, Relson, Rorion entre muitos outros. Se dedicou ao legado dos Gracie, o Jiu-Jitsu. Ao longo dos anos muitos vieram a público falar contra ele e contra as suas ideias fixas sobre Jiu-Jitsu, alguns eram até familiares próximos como Carlson Gracie.

Mas mesmo com todo esse tumulto, não existem dúvidas que sem ele o Jiu-Jitsu teria tomado um rumo diferente e ele será sempre lembrado como o Grande Mestre Hélio Gracie, 10º grau de Jiu-Jitsu e fundador dessa fabulosa arte marcial, que tanta gente no mundo pratica e ama.

O Grande Mestre Hélio Gracie faleceu no dia 29 de Janeiro de 2009, com 95 anos de idade.